A pesquisa da vacina em aerossol do Laboratório de Bacteriologia foi a base do trabalho “Formulação de vacina pulmonar nanoparticulada baseada em lipossomos contendo antígenos proteicos de Streptococcus pneumoniae”, apresentada pelo farmacêutico Tasson Rodrigues no doutorado do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia da Universidade de São Paulo (USP), Instituto Butantan e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O estudo, orientado por Eliane Miyaji, venceu o “Prêmio Tese Destaque da USP – 13ª Edição” na categoria Interdisciplinar em novembro de 2024. Tasson também recebeu o prêmio Robert Austrian Research Award in Pneumococcal Vaccinology em 2022.

Por que uma vacina em aerossol?

Embora as vacinas atualmente disponíveis sejam bastante eficazes contra a doença pneumocócica invasiva, o uso delas tem levado a uma substituição dos sorotipos prevalentes na população, causando um aumento da incidência de doenças pneumocócicas por sorotipos não incluídos nas formulações vacinais.

A escolha por testar uma vacina com antígenos proteicos e não com base em polissacarídeos do pneumococo leva em conta uma possível maior cobertura comparada às VPCs e VPPs. Isto é, se a hipótese da pesquisa se comprovar, será possível ter uma maior cobertura contra pneumococos sem depender da necessidade da inclusão de mais sorotipos a cada nova composição.

“Enquanto as VPCs e VPPs são focadas em polissacarídeos, que são açúcares, e bastante variáveis, nós focamos em proteínas de superfície do pneumococo que, em tese, são mais conservadas. Essa é uma outra forma de desenvolver uma proteção contra o pneumococo sem depender da inclusão de polissacarídeos de diferentes sorotipos”, explica Tasson Rodrigues.

A versão em aerossol teria outra vantagem sobre as demais vacinas: ela atingiria diretamente os pulmões, formando uma barreira contra a bactéria já no local de entrada do organismo. “É a única vacina contra pneumococo que chega aos pulmões, fazendo uma imunização pulmonar. Essa forma de proteção é importante porque a maioria dos casos de pneumonia grave, sobretudo nas crianças e nos adultos 60+, é de origem bacteriana”, diz Eliane.

O estudo, feito em parceria com a Liverpool John Moores University (LJMU), do Reino Unido, foi desenvolvido em etapas. Na primeira, Tasson e a equipe do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan produziram os antígenos proteicos. Na segunda, as proteínas foram levadas para o Reino Unido pelo então estudante de pós-graduação, que trabalhou na produção de lipossomos – tipos de nanopartículas formadas por lipídeos arranjados em camadas duplas que formam uma espécie de esfera envolvendo os antígenos – no laboratório do professor de Nanomedicina da Escola de Farmácia e Ciências Biomoleculares da LJMU, Imran Saleem.

O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pela Medical Research Council (MRC) do Reino Unido.

Fonte: Agência de Notícias do Governo do Estado de São Paulo – Foto: freepik